PIOTR

Um vento duro soprava sobre a distante e cândida Islândia. O céu estava cinza de cinza e o mar cinza de azul. Tudo calmo. O Eyjafjallajökull esbravejava e ameaçava macular o branco véu de noiva sobre a terra. Derramaria sangue feito de pedra líquida, fogo líquido sobre o solo encolhido de frios milenares. Mostraria o que guardava a tanto tempo em seu coração. Tanto tempo sozinho, nenhuma ave, nenhuma flor com quem discutir os segredos da terra, da água e do ar. Solidão e céu azul: opressão azul. Ele romperia as cadeias enfim. O poente não mais teria aquele vermelho frágil de um sol distante e oblíquo. Seria vermelho vivo, quente e presente. O drakkar de algum velho viking perdido nos gelos do esquecimento agora teria, na coluna de fogo, um destino. As águas ficariam mornas e sensualmente cheias de vida, novas vidas, muitas vidas. Ele interditaria o céu. Nem deuses, nem aves. Só flocos leves flocos, volantes flocos, alvos pequenos flocos de pedra leve.
Quando o coração explodisse enfim, o mundo teria sabido dele, ainda que sem compreendê-lo. Ao menos sua lembrança não seria sozinha. Depois, o manto de Balder cobriria outra vez a terra dura. Voltaria o branco, o frio branco sem nada sem ninguém, até que ele acordasse de novo.  Wellington Ferreira

(Pequena nota: Fico sem palavras após ler textos como esses. Quando Wellington disse ter escrito um texto para mim, eu não podia imaginar que seria um tão magnifico quanto esse. Deixo registradas aqui minhas palavras de agradecimento. A tag "Tesouro" não é insignificante, tudo que esta marcado com ela, é considerado por mim definitivamente um tesouro.)